quinta-feira, 19 de março de 2009

Escolha de Deus

Escolha de Deus

Eu não fui escolhido por ser bom
Eu não fui escolhido nem por mérito ou beleza
É assim desde de início, é assim desde Abraão
Deus escolhe geralmente os piores

Só que Ele respeita o livre arbítrio, é preciso o sim da nossa parte
É preciso abrir o nosso peito, Ele bate à porta para entrar
Se nós a abrimos Ele ceia, nos unge com óleo lá do céu
Então nossa vida se transforma, já não somos nós, mas Deus em nós

Tu não foste escolhido por ser bom
Tu não foste escolhido nem por mérito ou beleza
É assim desde de início, é assim desde Abraão
Deus escolhe geralmente os piores

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Volta e meia quando começo a escrever, quando Deus me leva a digitar seja o assunto que for, me recordo de determinada pregação do saudoso padre Léo. E não foi diferente com essa poesia, com essa letra acima (qual já coloquei a música), eu mais uma vez recordei de uma pregação, de um livro do padre e “viajei” pensando em como Deus é bom! Como Ele escolhe pessoas que se viam como: o coco do cavalo do bandido, e por pura misericórdia, Ele as transformou em adubo. Porém como o próprio padre dizia, é melhor ser adubo nas mãos de Deus do que ouro nas mãos do mundo.
E desde Abraão, vemos pessoas que se deixaram usar por Deus e tiveram suas vidas modificadas. Tiveram sua vidas transformadas porque disseram sim ao chamado de Deus, disseram sim à escolha de Deus, e confiaram no Senhor, porque”sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios. Os que ele distinguiu de antemão também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos”. (Romanos 8, 28-29)
Vejamos a seguir então alguns exemplos de homens e mulheres que tiveram suas vidas transformadas, começando pelo nosso Patriarca.
Abraão. Vivia em Ur da Caldéia (Gênesis 15, 6) e servia a outros deuses (Josué 24, 2). Entre suas fraquezas vemos claramente a mentira. Aliás, para salvar a própria pele, Abrão permitiu que o Faraó tomasse Sara (sua esposa) como sua mulher.
Sara (mulher de Abraão). Demonstra sua fraqueza ao maltratar sua escrava (que por sua própria idéia) deu um filho a Abraão. Sara também se mostra incrédula quanto à promessa de Deus dela conceber um filho na velhice.
Jacó. Neto de Abraão e Sara, filho de Isaac. Como seu avô, também foi um homem cheio de fraquezas, e também através da mentira, engana seu pai, que orientado por sua mãe recebe a benção que deveria ser dada ao seu irmão Esaú.
Moisés. Sua história fantástica também é marcada por fraquezas humanas. Moisés ao ver um egípcio brigando com um hebreu, mata o egípcio e o oculta na areia. Só que o fato é descoberto e ele foge para Madiã. Outro detalhe interessante, é que Moisés era gago. E Deus escolheu um gago para justamente dirigir sua Palavra ao povo.
Davi. Muito embora rei e ungido de Deus, não resistiu aos encantos de Betzabé, uma mulher muito bonita, porém casada. Davi ainda mandou Urias (marido de Betzabé) para morrer à frente do combate nos campos de batalha.
Maria Madalena. Prostituta do qual foram expulsos sete demônios.
Pedro. Um homem grosso, agressivo, que negou Jesus por três vezes mesmo tendo sido avisado que o faria, antes que o galo cantasse. E mesmo tendo vivido tudo de perto com Jesus, resolveu voltar à pesca, deixando para trás todo um rico ensinamento.
Paulo. Um fariseu que levava suas convicções até os extremos. Foi um dos causadores da morte do primeiro mártir da Igreja, Estevão! Paulo foi um perseguidor dos cristãos de difícil convivência, um assassino frio.
Citei alguns nomes bíblicos (não acusando já que não sou secretário do encardido) mas justamente para mostrar que a Bíblia não esconde a fraqueza de ninguém, nem mesmo a fraqueza de Pedro, que recebeu a missão de ser a pedra que edificou a Igreja de Jesus Cristo. Mas o mais bonito de todas essas histórias é justamente o depois. O interessante disso tudo é que Deus narra na Bíblia a miséria dos seus escolhidos, mas a vitória dos seus eleitos a partir da decisão de mudar de vida. Essas pessoas que não eram santas, que tinham muitas limitações, cresceram em vida, graça e sabedoria e se tornaram servos de todos. (Marcos 9,34-35) Essas pessoas, passaram a ter vida com vida. Cito como exemplo os mesmos personagens citados.
Abraão. Se tornou pai quando tinha 100 anos e por ter confiado no Senhor se tornou nosso patriarca.
Sara. Mesmo na velhice amamentou seu filho, e teve sua purificação no episódio do sacrifício do seu filho Isaac.
Jacó. A luta com o anjo evidencia a necessidade de perseverar. Mais tarde ele vai procurar reconciliação com seu irmão Esaú e renovar a sua pertença a Deus. Antes de morrer teve a graça de abençoar cada um de seus filhos. De sua descendência nasceu o povo de Deus. “O Senhor deu-lhe a bênção de todas as nações e confirmou sua aliança sobre a cabeça de Jacó. Distinguiu-o com suas bênçãos, deu-lhe a herança e repartiu-a entre as doze tribos. Conservou-lhe homens cheios de misericórdia, que encontraram graça aos olhos de toda carne”. (Eclesiástico 44, 25-27).
Moisés. Após a experiência da sarça ardente tem um profundo e maravilhoso encontro com Deus. A partir daí sua vida se modifica. Nesse encontro em que recebe a missão de libertar o povo de Deus, ele passou a não mais ver quem era, mas quem é Deus. Moisés a partir desse ponto ele deixa de ser um gago assassino e brigão e se torna um intercessor. Se torna ainda o interlocutor de Deus. Isso sem contar que pela fé de Moisés, Deus faz o povo atravessar o Mar Vermelho.
Davi. Ao lado de Abraão e de Moisés, Davi é um dos mais importantes personagens de toda a história sagrada. Tanto que Jesus veio da descendência de Davi. Davi recebe um lugar de destaque, por sua importância religiosa e civil. Davi é rei e cantor e compositor de Deus. Davi é o homem dos salmos. Davi foi o ungido que matou Golias, o gigante filisteu. Porém após a queda no pecado que mencionamos acima, Davi nos ensina como devemos proceder, justamente não nos deliciando com a sujeira, mas nos reconhecendo como pecador e mergulhando na misericórdia de Deus. “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia apagai minha iniqüidade. Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado”. (Salmo 50, 3-4). Davi, dessa forma, arrependido e humilhado mergulha na cura interior quando diz: “Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar. Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém. Então, aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; então, sobre o vosso altar, vítimas serão oferecidas.” (Salmo 50, 19-21) E Deus acolhe essa oração honesta, bonita e profunda de Davi. E Davi a partir daí volta a guardar os preceitos do Senhor. Volta a observar as leis, ensinamentos e preceitos de Deus.
Maria Madalena. Os livros apócrifos, os filmes épicos, contam que Maria Madalena já ao ouvir o nome de Jesus, sentiu algo diferente, repensando de pronto em sua vida de prostituição. Mas o grande encontro com Jesus é o ponto forte. O encontro de Maria de Magdala com Jesus é o encontro da transformação. O olhar diferente de Jesus para ela era tudo o que ela buscava! Aquela mulher que fora objeto nas mãos, primeiramente do seu ex-marido, e posteriormente de muitos, dentre eles alguns oficiais do exército romano, se lançou nas mãos e nos pés de Jesus. Aquela mulher também como qualquer outra mulher que sequer tinha o direito de ler, de ter o seu testemunho válido, encontra com a própria vida e se dá agora de maneira diferente, pois dá não corpo mas a alma a Jesus. É importante destacar que após a morte de Jesus na cruz, ela foi a primeira a ter um encontro com Jesus ressuscitado.
Pedro. Sempre que penso em Pedro negando Jesus três vezes, me vejo negando Jesus setenta vezes três, e Jesus me perdoando setenta vezes sete! Mas voltando a Pedro, a fogueira que Jesus fez enquanto esperava os peixes para comer juntos aos pescadores, serviu de cura para a negativa Pedro por três vezes. Pois se foram três negativas, também foram três afirmativas quanto ao amor de Pedro por Jesus. E após a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, sobre a Igreja, vemos um Pedro destemido, sempre levando o Cristo, sempre vivendo o Cristo, sempre negando-se a si mesmo e revelando o Cristo, sem medo, com ousadia.
Paulo. Se antes foi um perseguidor dos cristãos, passou a sofrer na pele a perseguição por abraçar a causa do Cristo, por viver o Cristo, por não ser mais ele a viver, mas o próprio Cristo vivendo nele. Paulo mesmo sendo um homem de grande cultura, aprendeu a ser simples e humilde, vivendo do trabalho, aceitando provocações, humilhações e desconfiança até mesmo do povo cristão. Paulo, que significa “pequeno”, com grande coragem se expôs e anunciou o Cristo provavelmente falando além do hebraico, o grego e o aramaico em suas viagens apostólicas. Paulo foi e continua sendo em suas cartas, um evangelizador moderno, que traduz até hoje aquilo que vivemos, aquilo que devemos fazer para seguir o Mestre Jesus Cristo. “Quando aprouve àquele que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça, para revelar seu Filho em pessoa.” (Gálatas 1, 15-16)
Portanto, caríssimos, se não estamos com a cabeça doendo pelo peso da auréola, já é um bom sinal de que somos escolhidos. Padre Léo diz no Livro Buscai as Coisas do Alto, que o que nos impede de chegar a Deus não são os nossos pecados. Pois pelos nossos pecados Jesus morreu na cruz. O que nos impede de chegar a Deus é a máscara que colocamos. Então aproveitemos a escolha de Deus, façamos como Maria, conheçamos a Deus de verdade, deixemos que o Espírito Santo desça sobre nós nos envolvendo com a sua sombra. Fecundemos Jesus em nossos corações. Levantemos depressa e subamos às montanhas. (Lucas 1, 39).

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