sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Casos Especiais

Em primeiro lugar, vemos um grande avanço até mesmo quanto a forma de se dar nome ao caso, pois o que antes era considerado como: “casos difíceis”, agora vemos como: “casos especiais.” Isso ao meu ver, soa de forma também especial. E especial é exclusivo, singular.
Esse avanço, que poderia ser visto por muitos como tardio, por outra ótica, na verdade pode estar no tempo exato para uma boa preparação, já que há um tempo para cada coisa. Esse é o tempo para se plantar e ao mesmo tempo, tempo para se colher o que alguns outros se anteciparam e plantaram. E mais: esse é o tempo de amar. Esse é o tempo de agir como o nosso Pastor, o Papa João Paulo II, inspirado por Deus, orientou a sua Igreja. Esse é tempo do zelo, esse é o tempo da atitude, da formação, esse é o tempo de valorizar a presença do Cristo no irmão, que antes, julgado por muitos, passa a ser amado, acolhido e convidado para o convívio com os irmãos de fé.
Esse é tempo, como narrei, de se colher. Colher o que o Dom Rafael Llano Cifuentes (Bispo de Nova Friburgo) plantou. Esse é o tempo de colher também o que Padre Luciano Scampini plantou por muitos anos, estudando e refletindo, a partir da Palavra de Deus e principalmente agindo com misericórdia, chamando o casal de segunda união a freqüentar o sacrifício da Missa, perseverar na oração e a cultivar o espírito e as obras de penitência, e em particular, a escutar a Palavra de Deus para conservar a fé recebida no batismo. Portanto, esse é o tempo de colher, mas principalmente de também de agradecermos não somente a Deus por pessoas como Dom Rafael, como o Padre Scampini, da Arquidiocese de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, mas a Dom Amaury Castanho da Diocese de Jundiaí, em São Paulo, a dona Dagmar (de Olaria) que no ano de 1997 começou (mesmo enferma) um trabalho de acolhimento aos casais de segunda união. Ao Padre Carlos Henrique da paróquia de Santa Clara, que em 1998, “ousou” fazer um retiro para casais que “aceitava” casais de segunda união. Esse é o tempo de agradecer pelas palavras de carinho e acolhimento dos padres Fernando Sanches e Alex Coelho, que acolheram principalmente no coração e por algum tempo foram pais espirituais de alguns casais de segunda união. É tempo de agradecer aos freis Doriano e Moacir da paróquia de Santa Rita dos Impossíveis de (Ramos) que junto com casais da Equipe de Nossa Senhora Jorge e Janete, se uniram ao casal (na época) de segunda união William e Linda, e fundaram em 1997 o CCD (Casais Caminhando com Deus) nos mesmos moldes da Diocese de Jundiaí em São Paulo.
A Diocese de Jundiaí, em São Paulo, que diga-se de passagem, no ano de 1993, com grande empenho do seu Bispo Diocesano Dom Amaury Castanho, juntamente com um casal assessor leigo diocesano, João Bosco e Aparecida de Fátima Oliveira, teve uma iniciativa pioneira no Brasil e com um trabalho muito bonito com os casais de segunda União, que foi justamente a Pastoral de Casais de Segunda União, nas vias da Exortação Apostólica Familiaris Consortio, do Santo Padre João Paulo II de 1981.
Dentre suas metas, estava o objetivo de trazer de volta as ovelhas perdidas, acolhe-las, e leva-las a uma concreta experiência de evangelização, onde “também o casal de segunda união contemplaria o Reino de Deus”. Era mais do que necessário levar ao coração ferido do casal de segunda união, o sentir-se amado por Cristo, por sua Igreja e por seus pastores, vivendo na esperança, e em torno do altar de Deus, nas Missas e dias de preceito, para crescer na fé e servir a seus irmãos e à própria Igreja na medida de seus dons e de sua capacidade.
A “fórmula”, ou os meios propostos para se atingir os objetivos foram e continuam sendo:
1) A escuta da Palavra de Deus, através de leitura, reflexão, partilha e vivência.
2) o convite e o incentivo à participação no Santo Sacrifício da missa.
3) A participação e a perseverança na oração individual, em casal, em família e em comunidade.
4) A experiência e a vivência do Amor Fraterno no casal, na família e na comunidade.
5) A partilha dos esforços para o crescimento espiritual do casal e da família.
6) A abertura ao diálogo com o cônjuge, com a família e com a comunidade.
7) A co-participação de suas vidas, exercitando o segredo, o discernimento e o auxílio mútuo.

De um modo bastante simples e eficaz, as reuniões com os ensinamentos baseados na Diocese de Jundiaí e consequentemente do CCD, se promove o OBJETIVO ESPECÍFICO que é levar os casais a uma experiência de acolhimento, abertura de coração e ao sentimento da necessidade de estar a serviço uns dos outros, com MOMENTO DE ORAÇÃO (inicial e no final), tendo ainda a CO-PARTICIPAÇÃO onde se solicita a cada pessoa do Grupo que se manifeste sobre a expectativa com a reunião e como passou os dias que antecederam a reunião. Daí o alimento do céu que é a COMUNHÃO DA PALAVRA, com reflexão inclusive do versículo que mais tocou o coração de cada um.
Antes do término da reunião há sempre um lanche (onde cada leva o que pode) dando o sentido da partilha de bens materiais.
Com o término da reunião, com uma oração final, existe um “trabalho de casa”. Ou seja: um texto para ser comentado na próxima reunião.

Vemos então que as metas e as diretrizes pastorais da Comissão Episcopal para a Vida e a Família – CNBB - são bem semelhantes as que citamos como precursores. A metodologia é basicamente a mesma. Ou seja: a Pastoral Familiar tem como meta uma adequada e constante evangelização da família. Justamente para que, educada no amor, ela possa cumprir, entre outros, os seus deveres gerais, estabelecidos pela Familiaris Consortio, no número 17. A Pastoral Familiar, deseja, na íntegra, levar palavras e gestos de apoio, acolhida, orientação e conservação, sempre animada e impulsionada pelo espírito missionário do Bom Pastor.
O Papa João Paulo II nos lembra ainda que a “Igreja foi instituída para a salvação de todos, sobretudo dos batizados”. E Jesus deixa claro que veio salvar a todos sem discriminação de ninguém.
Portanto, é de suma importância que tudo o que está escrito no Guia de Orientação para os Casos Especiais seja implantado, sobretudo no coração de alguns padres. Mas o grande padre Léo, dizia que amar é acreditar no absurdo, e nosso Deus é o Deus do absurdo. Por isso Ele se transforma, Ele se torna um pedaço de pão e em um pouco de vinho. Por isso Ele chega até o casal de segunda união e se faz um com Ele na comunhão espiritual. Deus é o Deus do absurdo ao se tornar Verbo, Palavra que também alimenta o casal de segunda união. Ainda citando o Padre Léo, ele nos diz também que é preciso ter meta, e quem se acostuma com coisa pequena pode não ir para o céu. Pois o céu é para quem pensa grande, ama grande e tem a coragem de viver pequeno.