quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ao me barbear

Outro dia, ao me barbear, encarando os caminhos que o tempo insiste em fazer no meu rosto, parei, e enxerguei além. Dessa forma, percebi ainda que os cinzas e os brancos que insistem em tingir o meu “teto”, só foram adquiridos, com certeza, porque Deus tem cuidado de mim, com zelo, com dedicação, e principalmente muito, muito amor.
Percebi também que aquele cristal que refletia hoje, um rosto mais envelhecido, não continha na verdade nenhuma ruga precoce, como a citada pelo grande compositor Adelino Moreira (que aliás, infelizmente, não é meu parente, embora tenha o mesmo sobrenome). Não tinha nenhuma das rugas precoces, que marcam os rostos dos solitários e vão fazendo itinerários, caminhos de solidão. E que em zigue-zague, pela face, em cada canto, abrem alas para o pranto que não sai do coração.
Ainda me barbeando, louvei a Deus por minha mãe, por meu pai, “o de sangue e o de coração”. Louvei a Deus por meus irmãos, “os de sangue e de coração”. Louvei a Deus por tantos amigos que Deus, durante esse tempo de vida colocou no meu caminho. Louvei a Deus pela Igreja que Ele me colocou e me chamou a servi-lo, mesmo com meus inúmeros defeitos. Finalmente louvei a Deus por meu filho, por minha filha, e por minha esposa. E nesse momento me veio ainda a continuação letra do Adelino Moreira que diz: dizem que por trás dos feitos de um grande homem existe sempre o calor de uma grande mulher. Só que eu vejo diferente! Vejo que, na verdade é ao lado, de um homem temente a Deus, seja ele grande ou pequeno como eu, miserável como eu, mais confiante na misericórdia de Deus, é que existe sempre o calor de uma grande mulher. Pois é justamente ao lado que ela ampara, dá o suporte, ajuda a carregar, soma, sorri, e sofre as mesmas dores.
Finalizando o barbear daquela manhã, da mesma forma que finalizo esse texto, percebi ainda que as rugas, os cabelos brancos, somados ao amor de uma mulher bonita e companheira, na verdade me deixa ainda “garotão”. Um garotão que não tem nem o mesmo vigor nem a mesma disposição de antes, mas tem por conseqüência um amor maior a cada dia.



Cada ruga que o tempo faz
Cada branco ou cinza do meu teto, canto e louvo a Deus
E se o sulco forma cicatriz
Não me importa, e os meus olhos dizem: sou feliz

Porque um dia, Deus em seu amor
Trouxe a mim uma grande mulher
Retirou-a da minha costela, carne da minha carne
E ela deu-me a continuação
Deu-me filhos, bênçãos sobre bênçãos
Eu sou dela, que também é minha, e somos de Deus.

Novo dia

Nós muitas vezes nem sequer agradecemos
Nos esquecemos do presente que Deus deu
E nem ligamos, e nem vemos que a lua
Mais uma vez, em Deus, se deu, pra vir o sol

Mas sempre é tempo de mudarmos de atitude
Não importa o tempo, o devagar também é pressa
É sempre tempo de acordar, e aos pés da cama
Agradecer, desembrulhar, nosso presente

Um novo dia, sempre novo, no Senhor
Pois quanta gente nem sequer amanheceu
Ajoelhados, nossas corações se elevam
E o nosso dia já começa consagrado a Deus.

Oração do Fim de ano

Me dirijo agora mui respeitosamente a ti, e diferentemente dos demais, que preferem dar adeus, ainda chamando-te de: velho, me dirijo muito agradecido, por teres sido canal, para que nesse período de doze meses, Deus me adicionasse não somente mais um ano de vida, mas ainda, mais conhecimentos, e através das perdas, dos ganhos, e dos momentos com Deus, Ele ainda me fortalecesse. Aliás, vejo que foi Deus que te escolheu para que durante esse período da minha vida eu contasse também contigo.
Interessante é que, muito embora eu veja que ninguém fica velho em doze meses, eu também digo: adeus. Porém não dizendo ou ainda vendo o velho no pejorativo, pois na verdade o velho geralmente é sábio. Então esse adeus, na verdade, é saudoso.
Se olho o novo ano que vai começar daqui a pouco, um pouco apreensivo; na fé, afirmo que a confiança em Deus é sempre maior. Então que ao final desse novo ano, eu possa, assim como foi contigo, em Deus, dizer que aprendi também com ele. Que eu possa crescer com ele, em graça, e sabedoria. Que eu possa ter saúde e paz, e principalmente vida com vida, para quando daqui há doze meses, ele for chamado pelos demais, de velho, eu também venha me dirigir a ele, mui respeitosamente.
A ti, Senhor, que és o dono do tempo, eu peço uma porção dobrada do teu Espírito Santo, para que eu possa ser sal e luz, não somente nesse ano que se inicia, mas por toda vida. Peço saúde e paz, para mim, para minha família, para os meus amigos. Peço que continues agindo com misericórdia na minha miséria.
Sim, Senhor Deus, agradeço pelo dom da vida, e lembrando daquela frase que diz: até aqui o Senhor nos ajudou (1 Samuel 7,12) ; peço que nunca me abandones, pois sou totalmente dependente de ti.
Amém.