domingo, 23 de janeiro de 2011

Vai longe o tempo

Refletindo sobre minha vida, principalmente sobre os erros que cometi ao longo da própria vida, acabo por me convencer que o mais importante não é a idade que tenho, mas na verdade, o tempo que ainda tenho. Por isso, se me perguntarem a idade, eu não sei ao certo, mas peço a Deus que no resto desse tempo, no “saldo que ainda me resta”, Ele possa me ajudar e me ungir, para que eu possa ser um um filho melhor, um pai melhor, um marido, um irmão, um servo, um amigo, um homem melhor.
Quanto ao tempo, o que posso dizer é que, vai longe o tempo em que o bonde se chamava condução. Vai longe o tempo do Gordini, da Rural, do Bel Air, do caminhão FNM. Vai longe o tempo do Carnaval na Rio Branco, do grande Moacyr Franco, cantando e fazendo rir. Vai longe o tempo do respeito, dos filhos pedindo a benção aos pais, do sujeito levantando e dando o lugar ao idoso. Vai longe o tempo em que a palavra valia, e quase ninguém subia na vida pisando no outro. Vai longe o tempo em que o professor era respeitado pelo aluno, e as escolas eram fundadas não apenas pelo lucro. Vai longe o tempo do “reclame” do rum creosotado, da Ducal, da Bemoreira, das Casas da Banha e do Mercy. Vai longe o tempo em que “correr atrás” era “ganhar uns cobres”, e que as propagandas nas camisas eram pra vestir os pobres. Vai longe o tempo do Nat, do Bronson, do Mathis, da Elis, do Elvis, dos Bee Gees. Vai longe o tempo das orquestras, vai longe o tempo das serestas, e que a entrada para a festa era uma “Pepsi família”. Vai longe o tempo do Kojak, do papo na esquina, do Chacrinha, do menino com menina. Vai longe o tempo do Chico City, do Viva o Gordo, com o Jô. Vai longe o tempo do Denner e do Clô, da Varig, da Vasp, da Cruzeiro. Aliás, eu nasci na Guanabara, no Rio de Janeiro. Vai longe o tempo da rádio-novela, e que maloca era favela (também no Rio). Vai longe o tempo da Ele & Ela, da Cruzeiro com o Amigo da onça. Vai longe o tempo do pigmaleão, vai longe o tempo em que refrão era estribilho. Vai longe o tempo do Zé Trindade, do Grande Otelo com as chanchadas. Vai longe o tempo do National Kid, do Super Homem, do Batman e Robin. Vai longe o tempo dos festivais da Record e da Globo, com o Chico, com a Nara, com o Jair Rodrigues, Oswaldo Montenegro, Guilherme Arantes. Vai longe o tempo da Banda, do Barquinho, e do Ouça, com a Maysa. Vai longe o tempo do Johny Alf cantando Eu e a brisa. Vai longe o tempo do Júlio Louzada rezando a Ave Maria às seis da tarde. Vai longe o tempo das panteras, do Fábio Júnior como Mark Davis, cantando em inglês. Vai longe o tempo do Repórter Esso, do Clube do Bolinha. Vai longe o tempo do Nelson Cavaquinho, do Cartola, do Tom Jobim, do J Silvestre, do Flávio Cavalcante com o Boa Noite Brasil. Vai longe o tempo do Shazan & Sherife, com a camicleta. Vai longe o tempo dos menestréis, dos poetas. Vai longe o tempo da Praça da Alegria, da Família Trapo, do Faça humor não faça a guerra. Vai longe o tempo em que Igreja não era palco, e que algumas almas cheiravam a talco, como bumbum de bebê. Vai longe o tempo do caminhando e cantando e seguindo a canção. Vai longe o tempo em que o homem se orgulhava de suar para ganhar o pão. Vai longe o tempo do Zico, do Lico, do Adílio, do Júlio César. Vai longe o tempo do Riva, do Ademir, do Doval. Vai longe o tempo da Leila Diniz, e do Carlitos assistido em “poeirinha”. Vai longe o tempo dos desenhos animados do Hanna & Barbera, dublados por Herbert Richers, ensinando que o crime não compensa. Vai longe o tempo do Mussum, do Zacarias, do Dedé, do Didi ainda com graça. Vai longe o tempo do Batmasterson, do Bonanza, do Kung Fu dando lição. Vai longe o tempo da Vila Sésamo, do Capitão Aza e Capitão Furacão. Vai longe o tempo do Nelson Gonçalves, do Ataulfo Alves, do Adelino Moreira. Vai longe o tempo em que música e letra combinavam, e se não fossem boas não tocavam nas rádios. Vai longe o tempo, vai longe o tempo, e a tudo isso eu testemunhei, mas parece que foi ontem! E vai longe o tempo que, assim como Paulo, não faço o bem que quero, mas o mal que não quero! Vai longe o tempo que assim como Pedro, eu nego a Jesus todo dia, quando peco. Vai longe o tempo que, assim como Davi, eu reconheço a minha miséria e a grandeza de Deus em minha vida. Vai longe o tempo, e Já perdi a conta das vezes que recomecei, mais ainda das vezes que pedi perdão. Mas a vida é assim, quem cai e fica no chão fazendo estrago é chuva quando cai torrencialmente. E aprendi que o céu é de quem insiste em ganhar de si mesmo. E se Deus não desiste de mim, eu também não posso desistir.
Escrevi tudo isso para alcançar o meu, o seu, e o próprio coração de Deus, Pedindo desculpas por não ter aprendido com a vida, e como citei anteriormente, buscar ser melhor filho, esposo, pai, irmão, amigo e servo. Escrevi tudo isso para deixar claro que quero e preciso ser melhor. Escrevi tudo isso para me desculpar por ser um moço velho, ou um velho moço, que se deixou domar muitas vezes pelos traumas que a vida lhe trouxe ao peito. Escrevi tudo isso para pedir suas orações para que eu possa me converter, pois o Reino de Deus está próximo. E conversão significa sair das trevas para a luz, buscando um caminho novo onde esta luz jamais se apaga, porque fica brilhando dentro do coração.
Termino o texto citando Silvio César com: o moço velho
Eu sou um livro aberto sem histórias
Um sonho incerto, sem memórias, do meu passado que ficou
Eu sou um porto amigo sem navios
Um mar, abrigo a muitos rios, eu sou apenas o que sou
Eu sou um moço velho que já viveu muito
Que já sofreu tudo, que já morreu cedo
Eu sou um velho moço, que não viveu cedo
Que não sofreu muito, mas não morreu tudo
Eu sou alguém livre, não sou escravo e nunca fui senhor
Eu simplesmente sou um homem que ainda crê no amor.

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